segunda-feira, 27 de junho de 2011

JARDIM BOTÂNICO - Da Bica à J. Carlos – para Oscar Henrique

Oscar Henrique - Gostaria de colocar fotos da casa do meu avô no Jardim Botânico, é possível? abs

Oscar Henrique - Casa do meu avô J.Carlos demolida no final
de década de 60 inicio de 70 onde hoje existe um prédio situado
na esquina da Rua Jardim Botânico com a Rua J.Carlos. Abs

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JARDIM BOTÂNICO - Da Bica à J. Carlos – para Oscar Henrique

Ao abrir a página do face “Rio de Janeiro: onde morava meu antepassado””, tive a grata surpresa de ver a belíssima fotografia da Casa onde morou o grande artista J. Carlos, na rua Jardfim Botânico, esquina com a rua que hoje lhe homenageia.
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Não pude me conter, e pensei em escrever algumas linhas sobre a localidade onde foi erguida àquela residência.

1702-1808 - Em época anterior à chegada da Corte Portuguesa – ano de 1808 – podemos dizer que J. Carlos estaria morando nas terras do Capitão Rodrigo de Freitas Castro, natural de Portugal, e proprietário de todas terras ao redor da lagoa que hoje tem seu nome: Rodrigo de Freitas. Homem nascido por volta de 1670 e proprietártio da Lagoa - a partir de 1702, depois de viúvo, deixou o Brasil, cerca de 1717, e foi viver recluso, em Portugal. Não se desfizera da propriedade, que ficara, desde então, até o mencionado ano de 1808, em mãos de administradores.
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Com a chegada da corte de D. João, e a desapropriação das referidas terras e lagoa, para nelas se erguer uma Fábrica de Pólvora – e não um Jardim Botânico, como pensam alguns - deu-se início ao povoamento, mais regular, na localidade.
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Já nesta ocasião, os terrenos onde morou J. Carlos, formava uma grande chácara, conhecida pelo nome de Chácara da Bica, porpriedade de Antonio José Pinto Monteiro, e que tinha o número 61.
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Parte das suas terras foi, durante muitos anos, a única chácara ou sítio, localizado do lado esquerdo da rua Jardim Botânico, quase à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, em uma ponta que avançava sobre a mesma que, segundo a cartografia do princípio do século XIX, denominava-se Pedras do Pinto. Ali surgiu, já no século XX, o grande palacete do médico, José Mariano Carneiro da Cunha, conhecido pelo nome de Solar Monjope.



1809-1827 - Entre 1809 e 1827, o terreno onde morou J. Carlos, pertencia a  Antonio José Pinto Monteiro e sua mulher Esperança Leonarda do Sacramento, que por formal de partilha, anterior a 1827, coube ao filho, Vicente José Pinto Monteiro, repassado aos netos Vicente José Pinto e sua irmã, Francisca José da Silva.
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1838 - Cabe registrar que, por volta de 1838, o velho Sítio 61 - segundo a organização dos terrenos arrendados à Fazenda Nacional - recebeu nova numeração: Chácara 3 – em outras palavras, se já neste tempo tivesse nascido J. Carlos, estaria agora morando no número 3.
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Na década de 30, do século XIX, a família Pinto Monteiro iria se desfazer, definitivamente destas terras, e venderam a Chácara da Bica, pela quantia de 10:000$000 (dez contos de réis), para Benedito Antonio Duarte, compreendendo as benfeitorias existentes. Nelas, Bernardo Duarte vem atestado como proprietário de escravos.
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  • Vicente José Pinto e sua irmã Francisca Joaquina da Silva, vendem e cedem a herança dos falecidos seus pais a Bernardo Atonio Darte. São senhores e possuidores das benfeitorias de uma chácara em terreno da Nação, situada na Freguesia de São João Batista da Lagoa de Freitas, denominada a Bica, que houverão por herança de seus fallecidos pais Vicente Jsé Pinto Monteiro e Plácida Joaquina, constante do formal de partilhas que se estrahiu do inventário de seu avô Antonio José Pinto Monteiro, dos quais benfeitorias que consistem em Casa, posse de terreno, arvoredos, e todos os mais bens que elles provierão desta herança, não só da dita seus pais, como da falecida sua avó Esperança Leonarda do Sacramento, a excepção dos escravos que ora existem . . . pela quantia de 10:000$000
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1840-1852 - Entre 1840 e 1851, a chácara da Bica vem atestada, sempre em mãos da família Duarte e, em 1852, pertencia a Domingos Antonio Duarte.
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1853-1875 - Os Duarte, venderam a propriedade, em 1853, para o Comendador e capitalista Francisco Antonio de Carvalho Ribeiro, português de N. S. da Conceição d Vila do Rio Maior , falecido a 28.03.1858, no Rio de Janeiro, com 38 anos de idade. Estava viúvo de Deolinda Rosa Pereira Gonçalves, falecida a 13.01.1850. Porém, não suportando a solidão da velha companheira, que lhe deixara dois filhos pequenos, resolvera casar-se novamente, desta vez, com uma “poderosa” mulher, filha da famosa DONA CASTORINA, sim, àquela que deu nome a “estrada” que corre por traz do Jardim Botânico, que dava acesso a sua suntuosa fazenda, no Horto.
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O comendador Carvalho Ribeiro, para mostrar poder e justificar o pedido da mão da donzela Firmina Angélica Mendes de Oliveira Castro, então com dezesseis anos de idade, fez construir um grande casarão, do outro lado da rua, justamente naquele pedaço de terreno que avançava até a beira da lagoa. Casaram-se a 31.08.1852, na Candelária e, foi esta mesma casa, quase senhorial, do velho Império, que o já citado José Mariano, o paladino da arquitetura neo-colonial brasileira, transformou no seu grande palacere Monjope, à cópia do que foi, outrora, o engenho da secular família Carneiro da Cunha, em Pernambuco.


1875 - Em 1875, depois de algumas transações de compra e venda da propriedade, a Chácara da Bica pertencia a José Moreira  da Fonseca, casado com uma filha do primeiro casamento do comendador Carvalho Ribeiro e, o que é mais curioso, foi que este trecho inicial da rua Jardim Botânico, entre o atual Túnel Rebouças e o Parque Lage, em fins da década de 60, tinha o nome de rua do Oliveira, ou seja, o grande J.Carlos, se vivo fosse naquela época, poderia dizer que morou no numero 3, da Rua do Oliveira, confundindo metade da população carioca, que não saberia informar tratar-se da mesma Rua Jardim Botânico, ou, para ser mais preciso, parte dela.
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Entre 1875 e 1879, a propriedade foi dividida em duas partes:
Número 3 – de Suzana Sampaio
Número 3 A – de Umbelina Luiza de Medeiros Guimarães


Em fins do século XIX, virada para o XX, já estava muito retalhada a velha Chácara da Bica, no entanto, ainda não existia o logradouro que tem hoje o nome de J. Carlos. No entanto, o fervilhar da zona sul carioca, com parte da população buscando novas regiões praieiras, como Ipanema e Leblon, já como resultado da explosão copacabanense, e parte migrando para o bucólico bairro do Jardim Botânico, fez com que estas regiões se urbanizasse rapidamente. No Jardim Botânico, ainda encontravam-se vários terrenos arborizados, nos fundos das chácaras remanescentes, como a dos Lages, vizinha à da Bica. Foi assim, necessário rasgar logradouros, perpendiculares à rua Jardim Botânico, em direção a encosta.
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Foi aí, que a Companhia “A Propriedade”, detentora de parte das terras que outrora formavam a Chácara da Bica, do lado da encosta, resolveu crirar o bairro “Jardim Redentor”, conseguindo a aprovação de um plano de arruamento e loteamento das terras, com projeto idealizado pelo engenheiro e urbanista carioca, Professor. José Otacílio Saboya Ribeiro (1899-1967), também responsável pelos projetos de urbanização dos bairros do Recreio dos Bandeirantes e parte do Leblon.


O projeto de Saboya Ribeiro, da criação do “Jardim Redentor”, data do ano de 1941. Por ocasião da implantação deste loteamento, abriu-se uma entrata pela rua Jardim Botânico, a fim de atingir os terrenos dos fundos, a qual se deu o nome de Rua Sucupira. A abertura do novo logradouro, formava duas novas esquinas na rua Jardim Botânico e, numa delas, naquele mesmo ano de 1941, no número 236, residia José Carlos de Brito e Cunha,  o renomado caricaturista J.Carlos, nascido a 18.06.1884, no Rio de Janeiro, onde faleceu a 02.10.1950. Filho de Eduardo Augusto O'Neill de Roure Brito e Cunha e de Maria do Loreto Carneiro Viana Carvalho e Melo, descendia, por parte de sua mãe, das primeiras famílias povoadoras da cidade do Rio de Janeiro, no distante século XVI.

J. Carlos, o mais importante caricaturista de seu tempo, com inúmeros trabalhos publicados nas revistas Careta, Fon-fon, O Tico-tico, O Cruzeiro e no Almanaque do Tico-tipo, residia na Casa número 236, da Rua Jardim Botânico, onde atendia pelo telefone 26-3410, naquele ano de 1941. Neste endereço, ainda residia, quando faleceu às 10h:45 min, na Clínica São Vicente, no dia 02.10.1950, conforme atestou o dr. Aluizio Marques, em seu atestado de óbito.

Foi assim, que em homenagem ao grande J. Carlos, que por quase dez anos residiu na esquina da Rua Jardim Botanico, com a Rua Sucupira, que esta última, passou a denominar-se Rua J. Carlos.


A belíssima residência de J. Carlos – cuja fotografia foi postada aqui, no face do “Rio de Janeiro: Onde morava meu antepassado”, por seu neto Oscar Henrique foi, infelizmente, devorada pela especulação imobiliária, demolida, surgindo em seu lugar, um edifício de apartamentos, de sete andares, com cinco unidades por andar, onde ainda residia, nos anos 80, do século XX, um dos seus filhos Eduardo Auqusto de Brito e Cunha, pai do nosso compartilhador Oscar Henrique.
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Att.
Cau Barata


2 comentários:

  1. Bom dia:

    Legal a foto!
    O encontrei por um CASARÃO ANTIGO que se encontra na cidade onde resido (PORTO ALEGRE)...
    Só que também sou do RJ_inclusive residi na rua J. CARLOS (o JB é um bairro e tanto); curto muito áreas verdes/natureza mesmo. Residi antes no LEBLON e nem acho este tão bom assim (até prefiro IPANEMA).
    Pela minha boa memória, o predio situado onde havia a tal casa dever ser o edifício JUNDIAÍ ou o da frente: no outro lado da rua JARDIM BOTÂNICO havia uma firma chamada OSCAR ISKIN (de cor meio esverdeada). E este estilo da casa é comum na rua J. Carlos (na frente do meu edifício_havia uma na esquina. Parece que funciona algo tipo JUIZADO DE MENORES). E parece ser em estilo enxaimel (de cultura germânica). Até minha familia tem uma casa aqui em POA nesse tipo.
    Muita coisa aí no RIO mudou. Estava vendo que VÁRIAS ESCOLAS FECHARAM, muitas onde estudei: Colégio Saint Patrick´s/outros.
    Seria isso.

    Tchau,
    Rodrigo Rosa

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  2. Gostei muito do conteúdo da postagem do Oscar Henrique e gostaria muito se pudesse ter um contato com ele. Estou fazendo pesquisa histórica das edificações que já foram demolidas no bairro do Jardim Botânico - RJ e essa foi um grande achado pra mim. Se ele pudesse me telefonar eu ia adorar. (21)99715-9982 Ana Cristina

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